Recentemente tomei conhecimento de um trabalho da Ayn Rand em que fiquei bastante impressionado. Como autor de ficção tenho severas críticas a essa autora, apesar de o conteúdo do seu mais famoso trabalho ter uma importância muito grande para os defensores da liberdade, a escrita de Ayn Rand não costuma ser muito satisfatória quanto a fluência, um tipo de leitura travada e sem muita harmonia e nem ritmo, a história não é contada de maneira fluída, por vezes assemelha-se mais a uma leitura de um livro de teoria política e econômica do que de um livro de literatura, mas ainda assim o livro “A Revolta de Atlas” têm seus méritos e alcançou relativo sucesso. O trecho de “A Nascente” do qual tive contato a pouco tempo me fez refletir a respeito, realmente esse trabalhou alcançou um patamar efusivo do qual eu ainda não havia experimentado com relação às outras obras da autora, o devido conhecimento desse texto me fez mudar as minhas opiniões frente ao trabalho de Ayn Rand.

“– Há milhares de anos, o primeiro homem descobriu como fazer o fogo. Ele provavelmente foi queimado na fogueira que ensinara seus irmãos a acender. Foi visto como um homem maligno que havia tratado com um demônio temido pela humanidade. Mas, a partir de então, os homens possuíram o fogo para se aquecer, para cozinhar sua comida, iluminar suas cavernas. Ele lhes deixou uma dádiva que não haviam concebido e removeu a escuridão da face da Terra”. Aqui a autora descreve brilhantemente as questões ligadas a Tradição, que pode se manifestar de inúmeras formas e conteúdos, sem a Tradição, sequer nos lembraríamos de quem somos, ou mesmo não saberíamos como fazer para continuar a reacender o fogo, a fazer uso da roda, a entender os ciclos da Terra. Além de uma excelente fluência na escrita, o texto se apresenta de maneira fulminante quanto ao que é proposto como reflexão atemporal a cerca do que de fato é a humanidade.

“Esse homem, o primeiro, que não se submete a ninguém, figura nos primeiros capítulos de todas as lendas que a humanidade já registrou sobre suas origens…”. “…Adão foi condenado a sofrer… porque comeu o fruto da árvore do conhecimento. Qualquer que fosse a lenda, em algum lugar nas sombras de sua memória, a humanidade sabia que sua glória começou com um único homem, e que ele pagou pela sua coragem”. A autora faz uma referência a glória iniciada por alguém em algum lugar, e isso não deve e não pode ser esquecido, jamais. Em algum momento existiu um sacrifício de quem se submeteu aos riscos das tentativas de erro e acerto a fim de melhorar a própria vida e a dividir seus aprendizados com os mais próximos. A Tradição é o princípio que jamais deixa isso cair no esquecimento, jamais ignora as próprias conquistas por meio de seus antepassados.

“Os grandes criadores… pensadores, artistas, cientistas, inventores… – enfrentaram sozinhos os homens de seu tempo. Todas as grandes ideias originais foram atacadas. Todas as invenções revolucionárias foram denunciadas. O primeiro motor foi considerado uma bobagem. O avião, impossível. A máquina de tear, maligna. A anestesia, pecaminosa. Mas os homens de visão independente seguiram adiante. Eles lutaram, sofreram e pagaram. Mas venceram…”. E o que vemos hoje? Justamente aqueles que se dizem salvadores da humanidade tentando calar seus opositores em nome da “liberdade”, tentando calar a verdadeira ciência em nome da “pseudociência”, tentando calar a Tradição em nome de uma falsa “novidade”, tentando calar a diversidade em nome de um tipo esquizofrênico de “diversidade”, desde que essa dita diversidade seja a de seus capachos, seus títeres, seus correligionários, seus “paus-mandados”, essa corja de fanáticos nomeando a si mesmos de “deuses”, nomeando a si mesmos de a “verdade”, tudo em nome de calar o outro em benefício próprio, o reacionário vê em si mesmo um “revolucionário”, e esse tipo, esse dito “revolucionário” enxerga na Tradição seu maior obstáculo, e de maneira vil os chama de reacionários, a conta não fecha, os argumentos não batem; é o bandido clamando por justiça e chamando suas vítimas de bandidos. Os “revolucionários-reacionários” representam a transgressão de valores e de sentido em nome de um tipo de ideologismo que tenta calar quem pensa diferente, esse dito “novo” tem ares de passado retrógrado e malfeitor! Esse “novo” que precisa matar seus antepassados para poder existir – na verdade já nasce morto!

“Os criadores não eram altruístas. Esse é todo o segredo do seu poder – que ele era autossuficiente, automotivado, autogerado. Uma causa inicial, uma fonte de energia, uma força vital, um Primeiro Criador. O criador não servia a nada nem a ninguém. Ele vivia para si próprio… E somente porque viveu para si próprio é que o criador pôde conquistar as coisas que são a glória da humanidade. Essa é a natureza da conquista”, ao tentar avançar contra tudo e contra todos, essa Tradição ergue toda a civilização a um outro patamar, mas sempre com o devido respeito a vida e a liberdade como pontos basilares. “…tudo o que somos e tudo o que temos vem de um único atributo do homem: a capacidade de sua mente racional”. “Mas a mente é um atributo do indivíduo. Um cérebro coletivo é algo que não existe. Um pensamento coletivo é algo que não existe”.

Finalizo esse texto exemplar de Ayn Rand com mais uma frase da autora, indicando de maneira indireta que a tentativa de acabar com a consciência do homem significa acabar com sua capacidade mais humana de errar e tentar corrigir seus erros, da sua capacidade de se arrepender, de decidir em ajudar ou não seu semelhante, da sua capacidade de diferenciar um estranho de um amigo, da sua capacidade de se negar a fazer o mal a alguém conhecido ou não, da sua capacidade de sonhar e de desejar um mundo melhor e de saber reconhecer o direito de todos quanto a Vida e a Liberdade: “Os homens aprendem uns com os outros. Mas todo aprendizado é apenas uma troca de ideias. Nenhum homem pode dar a outro a capacidade de pensar. E essa capacidade é o nosso único meio de sobrevivência”.

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