A única coisa que de fato possuímos é a vida. Todo o restante é uma consequência do acontecimento de estar ‘vivo’, não cabe tratar aqui a percepção de possuir algo material, para muitas pessoas esse assunto não é tratado como uma ilusão da mente ou uma percepção, mas sim acreditam que existe esse tal de ‘possuir’, quando de fato, é possível afirmar que não possuímos nada, realmente possuir é algo não passa de uma ilusão de quem está vivo. É certo que aos mortos resta apenas a memória dos vivos, porém, essa experiência, por mais que possívelmente também seja uma ilusão, deve ficar apenas no campo da experiência individual de cada pessoa. O maior dos absurdos acontece quanto a possibilidade de concretização do ato de suprimir a vida do outro é cogitada por uma pessoa ou por um grupo de pessoas, algo que jamais poderia ser pensado, sequer deveria existir a possibilidade de sua realização. E de nada adianta pensar que o pecado contra a vida estaria entre os maiores dos pecados, caso a humanidade não o trate com a mesma importância de uma ação, não adianta ‘pensar’ que é só uma ideia, é preciso agir contra qualquer ato que tente destruir a vida. Isso é algo que jamais deveria ser permitido a ninguém em nenhuma hipótese, a simples referência ao tema já deveria ser algo de muito espanto e reprovação; o assassinato certamente deve ser encarado como o maior dos pecados, parece-me que até isso estão relativizando nos dias de hoje. Logo, o primeiro e mais importante ponto é o de preservação da vida! Sempre!
O suicídio é um caso que também carece de muita reflexão, certamente aponta para questões outras que escapam as crenças individuais, a compreesão de certos atos humanos ultrapassam qualquer capacidade intelectual, se tivermos como base de que a vida é soberana, como justificar que existe algum sentido no suicídio? Essa controvérsia não cabe nesse texto – tamanha sua importância – principalmente quanto a dificuldade da humanidade em compreender um mínimo que seja de sua importância a fim de estabeler opiniões acerca de temas tão difícieis, por outro lado, se a vida novamente é o que há de mais valioso a ser preservado, não teremos dificuldades em tomar decisões desde que não coloquem a vida de quem quer que seja em risco. Ao bom cristão resta uma boa oração em nome daqueles que sucumbiram diante de tamanha desfaçatez ao subtrair de si mesmo a única coisa de que fato uma pessoa possui.
Em um Estado totalitário não é difícil de nos colocarmos contra a intervenção daqueles que ameaçam a vida, como é possível imaginar que uma instituição por meio de algum ditador desprovido de empatia social possa acreditar na possibilidade de determinar o que uma pessoa pode ou não fazer quanto a própria vida? Inclusive em tentar controlar as pessoas a ponto de subtrair a vida daqueles que se opõem a tirania.
Infelizmente existem várias maneiras de subtrair a vida de alguém (o ideal é que não deveria existir nenhuma). No sentido mais direto da palavra; por meio de um ato violento, um tiro, uma facada, um acidente de automóvel, uma queda, porém, infelizmente existem também outras maneiras figurativas de suprimir a vida das pessoas; roubando-lhes a esperança, oprimindo seu sentido de liberdade, o uso do medo como ferramenta de opressão, proibição do livre direito de ir e vir ou mesmo trancafiando alguém em uma prisão, e nesse caso não adianta pensar se foi de maneira legal ou ilegal – não é o centro da questão – pois sabemos que a lei também pode ser usada como disfarce para um fim específico de dominação. O fato é que, dependendo do lugar ou do país, para uma pessoa que esteja sendo aprisionada, pode não fazer diferença alguma quanto a existência ou não de uma lei que determine seus direitos ou seu próprio infortúnio, diante do simples fato de que perderá por um determinado momento ou mesmo para sempre o controle sobre a própria vida, sobre a própria vontade. A escravidão de qualquer tipo também deveria ser algo a ser extirpado da sociedade, mas infelizmente esse é outro tema que ainda acontece com certa frequência.
Não há como calcular o custo ou peso de não ser livre, para alguns é inimaginável, para outros é tolerável.
E ainda podemos listar inúmeras práticas imorais e ilegais realizadas por governos ditatoriais, práticas abomináveis que por meio da força prendem e matam sem proporcionar a vítima o direito a uma defesa por meio da justiça, negam o acesso a um advogado, aos processos judiciais, isso não é raro e também merece nosso total repúdio. O Estado de Direito não se refere a apenas discursos em favor do Estado de Direito, é preciso permitir o contraditório. No campo do discurso muita coisa pode até ter aparência de coisa bela, mas o que nós precisamos de fato, sim, precisamos de práticas que corroborem com o tema na realidade, na vida prática, e esse é outro ponto em que as sociedades livres devem sempre se ater, ao perder a liberdade, certamente será mais difícil sua reconquista. O discurso não deveria jamais se sobressair ao mundo da realidade, o discurso deveria ser sempre algo correspondente ao mundo real, caso contrário corremos o risco de vivermos no mundo da fantasia e ver o discurso sendo usado como ferramenta de manipulação e domínio.
Por isso, o respeito a vida está no topo de qualquer análise de problema. Não há maneiras de considerar que qualquer relação social seja boa, partindo de uma pessoa que não tenha ou não exerça o direito a própria vida. Isso não pode ser apenas uma manifestação ‘bonitinha’ da vontade de alguém, essa questão tem que ter correspondência na vida prática. Para todos!