É possível considerar que a existência do Estado tenha ocorrido porque – em algum momento da nossa história – a humanidade foi capaz de conseguir um convívio social respeitoso e amigável sem que houvesse a figura de uma pessoa ou organização “superior” que servisse de referência, de norte, de base, como um orientador, um moderador de conflito ou mesmo como uma organização de proteção contra invasores externos. Esse texto não é uma defesa, nem tampouco um ataque a existência do Estado que – por muitas vezes – acaba sendo tomado por algum tirano que sucumbe a tentação por abusar desse poder e aterrorizar seu semelhante, escravizar o próprio povo. São raríssimos os casos em que o Estado possua uma “razão-de-ser” que não prejudique ou limite as liberdades, como costuma ocorrer em países verdadeiramente republicanos. Quando o desrespeito a Vida e a Liberdade ocorre, o Estado perde boa parte da sua maior importância e de sua função vital de significação, e assim se torna o inimigo daqueles que em tese deveria proteger. A figura de um Rei talvez tenha ocorrido como uma das primeiras representações humanas desse poder de orientação e de organização social, mesmo que de maneira parcial ou generalizada, uma fonte de referência, mesmo que por muitas vezes inadequada e inadvertidamente surda, cega e muda, mas assim mesmo é provável que tenha sido infinitamente melhor sua existência em comparação a muitos dos países em que a política aplicada acabou se resumindo na ação de um governo totalitário e autocrático. Enquanto ainda havia a figura física e atuante de um Rei, na figura de uma pessoa-estado que se preocupava ou deveria se preocupar com o próprio povo, ao menos em tese deveria ser dessa forma, e vale ponderar que essa ideia da imagem de um Rei protetor também cabe muitas ressalvas, mas o que deveria ser sempre assim, por muitas vezes escapou ao juízo, pois é notório que Reis tiranos infelizmente existiram – e não foram poucos.
Não pretendo aqui entrar nos méritos da psique humana quanto a questão de encontrar no Outro as desculpas para os próprios infortúnios da vida, esse tema ficará para outro dia. De antemão defendo que cada pessoa deva se responsabilizar por seus próprios tropeços, pois mesmo quando existe interferência de terceiros, nunca cai bem atribuir ao outro a culpa de tudo o que acontece de ruim na própria vida. E além de tudo, isso seria de mau agouro.
Se uma pessoa pudesse ter todos os seus desejos realizados a todo instante em que desejasse algo, seja lá o que viesse a desejar. Se uma pessoa pudesse ter o que bem entendesse na mesma hora do surgimento do seu desejo ou vontade (como preferir), não haveria Estado, não haveria o que se habituou chamar de política, nem mesmo o que nos habituamos a chamar de civilização, pois certamente o confronto violento seria arbitrário e inevitável, a fim de que cada pessoa viesse a tentar com todas as suas forças obter a concretização de seus desejos, e nesse confronto de vontades, sairia vencedor o mais forte, o mais inteligente, o mais capaz de conseguir ferramentas ou meios alternativos para alcançar tais fins, ou seja, mesmo alguém menos desprovido de força, o mais capacitado em raciocínio e criatividade poderia se sobressair em relação aos demais, mas isso não teria um final saudável, pois todos continuariam tentando ad aeternum até o fim de suas forças ou mesmo até o fim da própria “humanidade” para obter resultado positivo frente ao que foi desejado. A palavra humanidade está entre aspas, pois teria sentido pensar nessa terminologia apenas como uma descrição possível de uma civilização que extrapolou a selvageria. O que não significa que não tenha que avançar em mais nada, e também não significa que de fato não estamos todos em alguma fase de selvageria, apenas porque em tese hoje somos menos selvagens em comparação a um passado menos longínquo.
No campo individual o jogo de Xadrez é um acontecimento onde até quem perde a partida consegue se sair vitorioso, simplesmente porque – por muitas vezes – o perdedor consegue aprender mais do que o vencedor, mas no caso da Guerra, é justamente o contrário, pois esse é o “jogo” em que até o vencedor sai perdendo. No caso da Inglaterra, que estava do lado vencedor quanto a Segunda Guerra Mundial, certamente foi o país que mais perdeu influência na geopolítica, e além disso perdeu suas colônias e até mesmo boa parte de sua hegemonia no cenário Mundial.
A guerra é a comprovação máxima de que a humanidade falhou e continua a falhar. Essa é a representação de que os conceitos de Estado de Direito, nem a República, nem a Democracia, tampouco o Rei ou o Estado Totalitário – como “subterfúgios” ou não da psique humana – nada foi capaz de pôr os devidos limites quanto as vontades humanas e suas consequências violentas, nem mesmo as religiões ou os acordos de paz, nada tem sido suficiente para acabar com essa insanidade dos desejos desenfreados e seus desdobramentos sangrentos (de maneira individual ou coletiva), principalmente com relação aos homens que alcançam grande poder político; e a destruição continua. Não estamos encontrando meios de bloquear o avanço de homens de comportamento autoritário, com suas vontades absurdas, mesmo diante de nossa aparente consciência quanto ao nefasto e tentador controlacionismo com sua Nova Ordem Mundial (NOM) por parte dos Globalistas. A sede por poder pode até, aparentemente, substituir o desejo humano por sangue e fazer tudo parecer mais “humano”, a gana de se obter riquezas pode até ser um disfarce quanto ao real desejo por essa triangulação dinheiro-poder-controle (ego), mas tudo continua caminhando como antes, dentro de certa “normalidade” por meio dessa força maior chamada Vontade Humana. Independentemente de suas proporções, reais ou fantasiosas, tanto para o bem quanto para o mal, a Vontade Humana tem causado problemas de dimensões astronômicas. O campo de batalha tem sido multifacetado (ou muito bem disfarçado) ao ficar tudo embaralhado com questões e coisas do mundo físico, do mundo virtual; ideias e vontades sem o devido regramento, o resultado é a guerra; de todos os tipos.
A Humanidade pode apresentar falhas de caráter que podem ocasionar desassociação e desagregação quanto da moralidade e da ética, podemos considerar como certo que para cada desejo ou comportamento bom ou saudável da humanidade, a sociedade consegue criar outros tantos comportamentos e desejos ruins e insalubres; o mundo continua como resultado da materialização de um punhado de seres incapazes de deter a si mesmos.