O mal não enxerga bondade em ninguém, exceto em si mesmo.
Pode parecer um pouco contraditório, pois de fato é muito contraditório e estranho. O mal já se basta por si mesmo em seu espiral funesto e autodestrutivo, e justamente por estar sempre muito ensimesmado, circunspecto, sempre muito ocupado consigo mesmo em algum tipo específico de solilóquio de um amontoado de coisas perdidas de uma alma sempre vazia, um acúmulo de coisa alguma, que só enxerga diversão ou valor apenas nas questões que alimentam o próprio ego.
Mas há de considerarmos também o mal quanto as suas variações no outro, como o que acontece com o injustiçado, aquele que tem consigo – permanentemente – o sentimento de injustiça, na grande maioria das vezes por algo que não passa de um pretexto de quem não sabe o que dizer para si mesmo em momentos de derrota, diante da incapacidade em lidar com a própria realidade, diante de um sentimento de impotência, da incapacidade em assumir responsabilidades, da falta de conhecimento quanto às coisas do mundo, este – comumente – é muito explorado pelo mal, que sabe tirar proveito de qualquer sentimento de autopiedade, sentir dó de si mesmo como sendo um tipo de fresta na própria alma que funciona como uma porta aberta para que a maldade entre na vida das pessoas e tome conta de tudo.
O mal não percebe e não possui empatia por nada que não lhe tenha alguma serventia, assim, muito semelhante com o que acontece com o cínico, que apenas vê burrice em tudo o que não é cinismo, o mal vê como burrice tudo o que não é maligno. O mal se utiliza de certos “princípios”, ou melhor, se utiliza de certas ideias para justificar e espalhar o seu poder e domínio, ou seja, disseminar a sua própria maldade pelo planeta.
O mal acredita que as pessoas – consciente ou inconscientemente – também querem fazer e praticar maldades, e até mesmo querem matar, e para isso o mal se empenha em dar a estas pessoas as razões e as desculpas adequadas para que façam isso sem que se sintam culpadas, sem que ninguém se dê conta dos absurdos dos próprios atos, sempre com uma boa desculpa, desta maneira haverá sempre quem justifique até mesmo a assassinato de bebês.
O mal acredita que as pessoas querem a libertinagem, a lascívia, a putaria e a corrupção de todos os valores, mas não sem antes acreditar que isso sim é que é “liberdade”, talvez algo como a liberdade de ser puta, de ser infiel, vagabundo, usurpador, ladrões e ladras, mentirosos, trambiqueiros corruptos, mas tudo em nome de uma suposta “liberdade”, se utilizam da distorção da palavra liberdade como se fosse possível ter a liberdade até mesmo para matar. O mal faz as pessoas acreditarem que depois de tudo feito, concretizado, as coisas poderão voltar a ser como antes, o que obviamente nunca mais acontecerá, existem coisas, existem limites que depois de serem ultrapassados jamais voltarão a ser como antes. Uma pessoa honesta pode ser muito facilmente corrompida, mas para transformar um corrupto em pessoa honesta; é mais fácil ganhar na loteria cem mil vezes.
O mal acredita que devem ser criadas vantagens individuais de todos os tipos para que as pessoas possam sucumbir pela ganância, afinal, ninguém quer perder uma “boquinha”, mesmo que não tenham feito nada para conquistar tais vantagens, raramente as pessoas percebem a armadilha do “ganho” fácil, do “gratuito”. Nada é de graça!
O mal acredita que as pessoas querem ter seus próprios privilégios e por isso também distorcem o sentido da palavra privilégio; e de fato elas querem privilégios, para as pessoas de um modo geral “o que é meu; é um direito, e a mesma questão quando acontece para o outro, passa a ser considerado como um privilégio!”, por isso o mal quer colocar todos contra todos, de uma maneira ou de outra, o mal está prosperando entre essas pessoas.
O mal acredita que as pessoas não conseguirão perceber a maldade sendo praticada, e por isso as incentiva a chamar o que é maligno com o nome trocado, como se o mal agora passasse a ser a bondade, logo, haverá quem reconheça a bondade como sendo outra coisa.
Diante de tanta superficialidade, quanto as capacidades de entendimento das pessoas quanto as coisas da vida, o mal se prolifera em nome de um suposto “amor”, algo tão absurdo como o ato de matar em nome de deus, tanto quanto o de ficar em cima do muro e apoiar a maldade em nome de uma suposta isenção.
O mal é tão pernicioso e astuto que chega a convencer uma pessoa de bem, que o próprio mal não existe, e que deus é uma piada de mal gosto, assim, novamente, o mal vai se espalhando e dominando o cenário.