A maioria das pessoas não cuida muito bem da própria saúde, e isso não é difícil de se confirmar – infelizmente quase ninguém se exclui desse grupo – pois é muito comum trafegar pelos extremos, ou a pessoa é muito relaxada com a própria saúde, ou facilmente pode se tornar hipocondríaca, difícil é encontrar um meio termo, quem sabe em algum momento da vida a humanidade pode deixar de lado os desleixos para tratar com equibilibrio da própria saúde, da vida e da liberdade. Os cuidados com a liberdade têm muita semelhança com a questão de como cuidar da saúde, é difícil conhecer alguém que cuide verdadeiramente bem da própria saúde, assim como é difícil conhecer alguém que consiga perceber a importância de cuidar bem da liberdade na mesma proporção, apenas ao perder certas coisas em nossas vidas é que passamos a perceber suas devidas importâncias. A liberdade não pode ser tratada apenas como um ideal, como algo próximo de uma fantasia, é importante tratar a questão da liberdade como algo tangível de ser perdido, e o risco aumenta quando ignoramos sua importância. Não é o caso de fazer referência a simples discursos e nem teorias vazias, mas sim de fazer referências a ações práticas e reais, permanentes. É possível reconhecer que é possível encontrar em algumas teorias as respostas e os termômetros adequados para acompanhamento do grau de liberdade de um país, de uma sociedade ou mesmo de uma simples cidade. O fetiche pela tirania não parte apenas daquele que se vê como um todo poderoso, um “manda chuva” do pedaço, esse comportamento pode encontrar ressonância em cada indivíduo a partir da luta permanente de cada um por sua sobrevivência, por muitas vezes pode também encontrar ressonâncias e pretextos em manifestações ególatras. O fetiche do poder é o de continuar tentando expandir seus limites, sempre! Caso sirva de referência, a questão da liberdade não deveria ser diferente, mas o fato é que não ocorre na mesma proporção. Há quem não se incomode em receber ordens e ser tratado como um servo, o difícil mesmo é fazer com que se respeite o direito de todos que decidam não se submeter a tratativas de submissão.
É muito comum encontrar pessoas que se declarem livres ou que presam por sua liberdade, mas o que significa de fato ser livre? O que significa de fato cuidar da própria liberdade? Assim como a questão da saúde, é preciso se antecipar em alguns pontos de risco, muitas das coisas que podemos fazer em prol da saúde se relacionam diretamente com a temporalidade, temos que nos antecipar, tomar cuidados anteriores ao surgimento dos problemas, muitas ações preventivas podem ser exercitadas, ações práticas que obviamente tem que acontecer muito antes da ocorrência de atentados a liberdade, e assim evitar que se concretizem as ações contrárias a liberdade, mas tem que ser antes de se materializarem, ou seja, a maioria das coisas que podem ameaçar a liberdade ou a saúde começa muito antes de percebermos seus reais riscos, e é muito difícil conseguirmos reverter a situação quando o ‘tumor’ contra a liberdade já está em estágio avançado.
A história prova que a liberdade é um precioso bem que pode ser perdido com muita facilidade. Um governo ditatorial pode surgir lentamente, porém, depois que suas ações se transformaram em realidades, tudo fica mais difícil, ações concretizadas são mais resistentes a reviravoltas. Com certa truculência e sem nenhum ‘aviso-prévio’, às vezes de maneira escancarada, um governo ditatorial pode acabar com toda a liberdade de um único país em um só instante, muitas vezes o planejamento e as ações para tal derrocada acontecem com anos e anos de antecedência. Com o poder em mãos um ‘ser’ corrupto e desprovido de humanidade – com os devidos poderes a ele “outorgados” – às vezes, e por incrível que pareça, tudo acontece de maneira “legal” e dentro dos princípios “democráticos”. Esse pretenso ditador pode declarar, sempre com subterfúgios canhestros e com distorções abusivas dos fatos reais – que ninguém poderá sair às ruas depois de determinado horário ou mesmo em nome da “liberdade” perseguir opositores, prender, torturar, matar, suspender direitos e etc. A liberdade é muito frágil, mesmo! Tão próximo do que pode acontecer com a nossa saúde, podemos perder tudo ligado à nossa liberdade de um momento para outro, e nesse caso também é possível concluir que “prevenir é melhor e mais fácil do remediar!”, a grande dificuldade de perceber é que esses ataques se referem a algo que começa no campo das ideias, o que torna tudo ainda mais delicado, e muitas vezes com ações tão bem camufladas que as pessoas não conseguem perceber o risco que estão correndo no devido tempo.
É possível afirmar que ter liberdade é ainda mais importante do que ter saúde, esse ponto de vista pode ser explicado de maneira muito simples. Imagine uma pessoa com a saúde comprometida e que viva em um país livre, essa pessoa poderá a qualquer tempo e a sua vontade despender de todas as suas forças e economias a fim de – onde quer que seja ou esteja – ir atrás de; maneiras, pessoas, médicos e métodos que possam ajudá-la a recuperar a saúde. Nessa situação a vontade plena é que determinará o que a pessoa irá ou não fazer para se tratar. Acontece que se a mesma pessoa estiver bem de saúde e não possuir liberdade, pouco lhe adiantará ter ou não ter saúde, não mudará em absolutamente nada sua condição, pois uma pessoa tolhida em sua liberdade não poderá ir a lugar algum que não seja liberado por uma “autoridade” devidamente “legalizada”, uma terceira pessoa, um departamento ou um governo qualquer, uma espécie de “entidade” é que irá decidir a respeito das vidas alheias. Assim, pouco valerá ter saúde, já que, em tese, essa pessoa não poderá ir a lugar algum conforme sua vontade desejar ou sua saúde lhe permitir, sempre haverá um condicional, uma autoridade, um terceiro.
O contrário de liberdade é escravidão, servidão, subordinação, dominação. São tantos os relatos a respeito da ditadura, e de tipos tão diferentes, de processos escravagistas; físico, mental, financeiro, psicológico, que seria impossível mapear todos senão em um trabalho realizado em específico para esse determinado fim. Os métodos e os meios podem diferir em muitos aspectos. Não podemos nunca subestimar as motivações de pessoas e de governos ditatoriais. Cada sociedade terá seu jeito de se deixar escravizar ou não, de se deixar ou não ser limitado ações de terceiros, mas como devemos ou podemos evitar que esses desastres aconteçam?
Na literatura mundial são inúmeros os livros que se dedicam ao assunto; romances, trabalhos científicos, sites, livros de política, livros de sociologia e até mesmo de economia. Destaque especial para Friedrich Hayek (1899-1992), vencedor do Prêmio Nobel de Economia, 1974.
“Descentralizar o poder corresponde, forçosamente, a menor soma absoluta de poder, e o sistema de concorrência é o único capaz de reduzir ao mínimo, através da descentralização, o poder exercido pelo homem sobre o homem. (…) Se fracassamos na primeira tentativa de criar um mundo de homens livres, devemos tentar novamente. O princípio orientador de que uma política de liberdade para o indivíduo é a única que de fato conduz ao progresso permanece tão verdadeiro hoje como foi no século XIX.”, Hayek, O Caminho da Servidão, 1944.